sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Céu do mar

Quando eu dô conta de mim
O céu já desabou sob nós.
A água já brotou nos nossos corpos,
O que estamos fazendo, amor, se não é só olhando pros nossos próprios olhos?
Celebrando nosso viver, nosso encontro...
Te digo: estar aqui é só por temporada... Eu sinto, tenho convicção, desde pequena quando pude sentir a primeira fagulha de amor na minha vida. Pensei: não é possível que só esse mundo consiga abarcar meu sentimento, existe algo maior.
Esse céu tem mais mistério do que podemos compreender, menos códigos e mais vida.
Lá, nesse manto estrelado, é onde fica a moradia do nosso desejo e reconhecimento.
Deve ser por isso que o céu nos olha pela janela que deixamos sempre aberta e acaba se encantando pela nossa beleza... Nos dá o presente de se por em mim, em você, naquela terceira pessoa que fazemos quando suamos juntas.

Não tenho medo só por saber que podemos ir até onde quisermos... Imensas como noite crua...
O céu do mar do nosso suor guarda todo nosso sentir... Ele nos espera - e eu sempre vou ao encontro do que me espera.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Um só farol que nos guia ao mundo.

Poderíamos desbravar o mundo
Nós, um carro de motor barulhento que só funciona um farol, uma lua crescente no céu, uma porção de estrelas que navegam ao léu, sem luz nenhuma na rua, útero em mim em nós, uma ponta da cidade laranja que ilumina de longe.
Eu, tu e nós.
Iríamos até a Bahia, voltaríamos pelo Atlântico navegadas de mar.
Contornaríamos pelo Rio e desceríamos até nossa terra vermelha, a nossa estrada de início. É que eu senti que estávamos prontas pra desbravar o mundo todo se quiséssemos - eu, tu, um carro barulhento e uma lua cheia que semeava nossas paixões nos recebendo em presente.
Digo, será que seríamos daqui há dez anos duas mulheres como aquelas de tecer caminhos?
Saberíamos mais sobre nosso corpo, espírito e alma, afim de relembrar as memórias dos nossos caminhos?
Digo portanto, lembraríamos, futuro, do seu sabor passado, já que o tempo é efêmero e louco?
O tempo é efêmero e louco
mas um dos deuses mais lindos.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

in

É o interno
Da onde vim
Pra onde vou
É nele que sinto o sabor das coisas
E o cheiro delas,
de mim
Através dele que eu sei olhar com meus olhos os outros olhos que me cercam
Acho que é isso que chamam de deus.

O vento balança e eu fico.

Eu agradeço a toda natureza por me ensinar com plenitude.
Agradeço às pequenas plantinhas por me trazerem o frescor de ser assim tão pequena.
À terra por sempre comportar e amaciar meus pés, por me dar chão e sustento.
À sombra das grandes árvores pelo refresco do meu corpo às vezes tão caloroso.
Ao sol, grande pai celeste, que ilumina meus olhos e esquenta meu peito.
À lua que me ouve sem nenhum julgamento, trata do meu coração como seu próprio.
Agradeço a toda forma de vida, porque hoje meu corpo morre - hoje minha pele é mar sem onda, azul, escura e silenciosa.
Agradeço a toda sutileza por me mostrar aquilo que não se vê. Especialmente hoje, agradeço à senhora da morte em mim.
Agradeço os ciclos e a meus olhos pálidos e abissais que profundo vêem.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Abuela.

Minha vó deixava as suas ervas, alimentos, de molho para "curtirem". Curarem. Isso se dá pra acentuar seu gosto, seu cheiro, potencializar seu efeito. O tempo da alma, das coisas, por vezes, me parece ser assim. Como, de fato, se precisarem de uma alquimia realizada para a transformação. O que vem do nosso coração também precisa de tempo pra curar. Curtir. Obrigada, abuela

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Remate pra luz que acende.

meados de 2013, de um caderno antigo:

De onde vem o vão?
Pela postura ereta
Calmaria nos olhos finos
A armadura que cobre pra segurar
O sorriso discreto
Com as pupilas em aberto.

De onde vem o vão?
Pro sexo descarado
Insensato
Pra onde vai o mato
Plantado, cultivado
Nasce onde?
Semeado em que campo?
Em que raiz germinam todas as juras,
os carinhos,
vem de onde?

Não estão fincados
todos os beijos ficam no vento
de tão livres que são.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Já troquei de disco.

02/07/2016

Me incendiou
Depois me transformou em correnteza

Me abriu
Vasculhou
Abrigou

Trouxe cartas
Memórias
Histórias

Mergulhou seu corpo em mim
Jogadas num tapete da sala

Me tocou
Me profanou
Me descobriu
Me despertou
Me incendiou
E me transformou em correnteza

Hoje sigo meu rio
Mergulhada no amor que mora em mim
E te lembro no tapete da sala
Quente
Incendiada
E profanada
Por mim

Me esgueirando
Pela beira
Das margens que esbarro
Por aqui, sigo:

Incendiada